Tal como em quase tudo neste mundo, há falta de fairplay no empreendedorismo. Falta de querer o bem dos nossos pares, de torcer pelos seus sucessos, de vibrar com as suas conquistas. Em Portugal esta falta de humildade acentua-se e é preciso ter cuidado, muito cuidado, com as opiniões dos “expert”. Hoje partilho um de muitos episódios pessoais nesta aventura perigosa que é empreender.

O nosso projeto é uma promessa há muito tempo. Primeiro surgiu com outro nome, agora somos um renovado conceito, às vezes até demasiado vanguardista ou visionário para poder ser compreendido. Como demoramos muito para apresentá-lo na sua versão final, temos sido alvo de críticas e descrença no geral – algo que não nos surpreende ou incomoda, sabemos o que estamos prestes a oferecer, aguentamos com todas as críticas. Mas quando surge a troça por parte de pessoas com “autoridade” na área do empreendedorismo… Simplesmente fico a pensar que não há necessidade.

Ao longo dos últimos anos, no desenvolver deste projeto gigante, temos falado com diversos investidores, já participámos num concurso, já fizemos alguns (re)lançamentos do nosso projeto e inúmeras garantias de que estamos mesmo perto de apresentar o produto final. Mas, no final, nunca acontece assim. Há sempre muitos imprevistos, é tudo muito mais difícil do que conseguimos prever.

 

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Pelo que acabo de dizer pode parecer que andamos atrás de investimento e nos dedicamos a isso, mas não é bem assim – na verdade, não é nada assim… Nunca dedicámos espaço suficiente a esse assunto, sempre deixámos a questão dos investimentos para segundo plano, para que isso não nos tirasse as atenções daquilo que é o nosso grande foco: apresentar um produto final espetacular. Como é óbvio, já nos questionámos muitas vezes se estas foram as melhores opções (afinal de contas, já se passaram anos nesta situação de insucesso). Como é ainda mais óbvio, toda a gente com quem falamos, incluindo os diferentes investidores, acham-nos loucos por tamanho empenho no produto e pelo facto da corrida aos apoios iniciais nos passar ao lado – ficam com medo que assim também percamos a corrida ao mercado.

No entanto, o problema deles nunca está no timing dos nossos lançamentos. O verdadeiro problema é sempre, e invariavelmente, a descrença no que estamos a fazer. Porque é grande demais; uma loucura; é gigante e não acrescenta nada de novo; é delirante. Não concordam com o projeto. Para eles, não passa disto: um grande sonho que nunca terá resultados à altura, não pode sequer ser concretizado. Para nós é um grande sonho, concordo, mas em que continuamos a acreditar todos os dias. Aliás, continuamos a apostar as nossas vidas (a 100%) nele já há alguns anos.

Apresentado este “problema”, só queria partilhar uma das nossas (infinitas) aprendizagens ao longo deste processo: não vale a pena andarmos a justificar-nos. Por nada; a ninguém. Explicar o que estamos a fazer, por que fazemos de certa forma, o porquê de cada opção… Não vale a pena, ninguém vai compreender, pelo simples facto de que ninguém está mesmo interessado em compreender e, na verdade, não têm sequer a capacidade para compreender. Há por aí um mito, e cada vez mais sólido, de que os investidores são pessoas que percebem um pouco de todas as áreas de negócio. Pior ainda, de que sabem tudo sobre todas as áreas de negócio. Não estará na hora de começar a olhar como deve ser para esta questão?

 

 

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Os investidores percebem de negócios, essa é a sua grande especialidade. Além dessa, a sua área de experiência específica pode dizer-nos em que ramos essa pessoa tem maiores conhecimentos e em que poderá aconselhar-nos. Juntando os conhecimentos a experiência, aí sim, temos um forte contribuidor. Tudo bem até aqui. Mas agora façamos um teste: quantos dos empreendedores se preocupam em encontrar um perito na sua área, quando se trata de buscar mentoring ou um investimento? Pior ainda, quantos questionam alguma vez os conselhos que lhes estão a ser dados?

Uma pessoa que tem dinheiro para investir não é, de repente, a pessoa com maiores conhecimentos do mundo em todos os domínios. Um apaixonado e verdadeiro nerd da sua área específica pode saber muito mais que um investidor, penso que isso é óbvio. Começa a ser altura de abrir bem os olhos, estar atento, questionar, porque só assim crescemos e somos donos dos nossos destinos. Porque havemos de entregar as decisões sobre o destino do nosso projeto, uma parte tão significante da nossa vida, a alguém que não tem qualquer envolvimento com ele, não tem por ele a estima que nós temos, não se preocupa tanto com o seu sucesso como nós? No mínimo, porque não havemos de questionar os seus conselhos? Aceitar as recomendações, isso claro que sim, mas sempre recordando que muita gente gosta é de falar muito e mostrar ‘conhecimento’ que muitas vezes não tem – o que têm a mais são opiniões e isso toda a gente tem as suas. Resumindo, devemos estar abertos para tudo o que vemos e ouvimos, aceitar todas as opiniões e conselhos, tentar aprender com toda a gente. Mas no meio de tudo isto, tem de haver o nosso filtro pessoal. Porque também temos conhecimentos, temos opinião e, acima de tudo, temos o nosso instinto. E se o negócio é nosso, só isto no fim deve prevalecer.

 

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O nosso projeto foi falado num livro que foi lançado este ano – e muito mal falado. Tenha razão ou não (na nossa opinião, não tem), a autoridade da pessoa que o escreveu acaba quando passa de criticar o projeto para o insulto ao promotor do mesmo. Quando é que as ofensas, e ainda por cima em público, passaram a ser aceitáveis? Quem pode escrever um livro e nele aproveitar e partir para o insulto gratuito? Bem, poder pode, mas alguém vai mesmo respeitar essa pessoa?

A questão aqui é que o autor mostra, não só que não tem qualquer respeito pelos próprios colegas de atividade, como ainda expõe num livro público o conteúdo de uma reunião privada, de negociação de investimento. Se se estão a perguntar sobre de que se trata tudo isto, falo de um “investidor” com quem falámos há uns anos, com o objetivo de angariar uma elevada quantia inicial para o nosso ambicioso projeto. A pessoa em questão, que se julga detentora de toda a razão e conhecimentos, tentou ridicularizar as nossas ideias, ambições, o valor do investimento em negociação e o projeto em si. Ficou de tal forma transtornado e indignado, que passados anos ainda fala de nós no seu livro. É certo que ainda estamos no mesmo sítio, mas 300% (ainda) mais crentes do que temos em mãos. Tão certo quanto as startups favoritas dele nessa altura (o sábio empresário partilhou connosco em reunião como as achava as mais promissoras startups em Portugal), terem falhado e fechado pouco depois da reunião – mesmo tendo tão brilhante profissional e visionário como mentor. Tão certo quanto a startup que agora, anos depois desse episódio, ele ter apresentado no fim do seu livro como a sua favorita atualmente em Portugal (!) ter fechado uma semana após o lançamento do livro!

[Sei que esta última frase parece mesmo mentira. Até seria anedótico, se não fosse verdade. Quase faz pena. E são estas pessoas que querem avaliar os nossos projetos e deitar os nossos sonhos por terra?]

E tão certo ainda como a startup que ele mais ridiculariza no seu livro – a nossa startup – poder vir a prosperar e ser ainda mais uma prova da falta de visão das pessoas que mais são ouvidas no nosso país. Incluindo esta pessoa, que nos gozou, desprezou, subestimou, e já soma tanto por onde ser alvo de paródia. E lançou um livro cheio de conselhos para empreendedores.

 

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Percebe-se a que ponto quero chegar?
Mesmo perante este quadro, este tipo de pessoas continuam a ser muito respeitadas, são líderes de opinião na área do empreendedorismo em Portugal, escrevem livros sobre isso, criam opinião, influenciam pessoas, são aplaudidas pelo que escrevem. São pessoas que vocês próprios admiram, se não seguirem com cautela o resultado das startups que eles apontam e apoiam, tal como as que eles desprezam e desvalorizam. Estejam atentos. É exclusivamente para isso que serve este post de hoje. Não se enganem, não sou eu que estou tremendamente rancorosa com a avaliação de um homem de negócios que não gostou da minha empresa ou que escreveu tão mal dela em público, estou muitíssimo longe disso, mas talvez um bocadinho triste às vezes por não haver consciência de que há tanta gente desprovida de talento e de visão de negócio a avaliar projetos neste país, a ser júri em concursos de empreendorismo e a decidir, erradamente, o futuro de tantos jovens que muitas vezes se entregam com verdadeiro talento a projetos que acabam troçados e podem mesmo ter de encerrar por falta de apoios, sem chegar a ver a luz do dia, e é a sociedade que perde… A mesma sociedade que dá voz a estes tipos do show-off e do muito falar mas pouco agir.

Temos muito que evoluir nesta área e penso que só quem tem grandes projetos em mão consegue sentir isso na pele e saber mesmo do que falo. Quem faz menos é quem tem mais autoridade (social) para nos avaliar e é quem normalmente cria um monte de obstáculos à inovação, mesmo sem saber e sem ninguém se aperceber… Damos autoridade a quem tem dinheiro e não a quem tem um verdadeiro background de empreendedorismo para poder e saber do que fala. Pensem nisto. Faz muito mais sentido do que possa parecer.

Voltarei muito com este tema, a fundamentá-lo, porque posso garantir que nada disto são invenções, opiniões vagas ou ressentimentos, nunca mesmo! Tenho mais histórias de “investidores” como este homem (que não se inibiu a chamar-nos nomes no seu próprio livro público, logo não se ofenderá com o que optei por expor nesta publicação), leituras que realmente recomendo para quem quiser “empreender a sério”. O tempo de quem empreende é precioso, gastá-lo a ler pseudo-livros é um enorme luxo, escolham bem onde vão investir o vosso tempo e escolham, sobretudo, de quem querem ouvir lições. Tenho variados autores – grandes empreendedores – que admiro muito e que escreveram livros absolutamente imperdíveis. Estes são livros em que percebemos a experiência e sabedoria únicas, quase palpáveis, dos seus autores, e de onde tiramos ensinamentos para toda a vida. De facto, estes livros já mudaram milhões de vidas ao longo das suas edições e é por isso que vou querer muito partilhar alguns! Até lá, boas leituras e muito bom trabalho. E já sabem… Sempre atentos.